O primeiro dia de aula do segundo semestre foi repleto de música, dança e comemoração na Escola Estadual Quilombola Tereza Conceição Arruda. A comunidade escolar, localizada no quilombo de Mata Cavalo, em Nossa Senhora do Livramento, recebeu, na tarde desta terça-feira (22) a abertura do Projeto Trabalho, Justiça e Cidadania (TJC), ação coordenada pela Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 23ª Região (Amatra 23) em parceria com a Justiça do Trabalho de Mato Grosso.
Crianças, adolescentes e professores enfeitaram a escola, vestiram roupas típicas do siriri e tocaram viola de cocho para receber o projeto, que busca aproximar o Judiciário da sociedade e promover os direitos fundamentais de forma acessível e transformadora.
A escola foi escolhida para receber o TJC pela presidente do TRT/MT, desembargadora Adenir Carruesco, que destacou a importância de levar o projeto a regiões mais vulneráveis. “Estar numa escola quilombola representa muito. Além do trabalho de promoção do trabalho decente, da cidadania e do combate ao trabalho infantil, trazemos um recorte racial. A população negra, entre as discriminadas, é a mais discriminada. Por isso, é importante estarmos aqui para dizer que nos importamos com essa comunidade, que queremos vê-la brilhar e participar da construção de uma sociedade mais justa, equilibrada e desenvolvida”, afirmou.
A coordenadora regional do TJC, juíza Karina Rigato, explicou que, por meio deste projeto, a Justiça vai até as escolas se comprometendo com a formação cidadã da juventude brasileira. “Promovemos acesso e acolhimento jurídico de forma simples e transformadora”, explicou.
A magistrada enfatizou o reconhecimento da história e identidade da comunidade de Mata Cavalo. “Quando essa ação educativa atinge comunidades tradicionais, ela adquire ainda maior relevância. Sabemos que os quilombos são territórios de resistência, cultura e saber. Trazer o TJC até aqui é reconhecer que a cidadania só é plena quando chega a todos os cantos e ouve todas as vozes”.
A diretora da escola, Rosângela Campos Silva, agradeceu a presença do Judiciário e celebrou o intercâmbio de saberes. “Para nós é muito importante. Sabemos das adversidades que perpassam comunidades quilombolas, tradicionais e ribeirinhas. Por isso, esse conhecimento compartilhado é essencial. Sabemos que essa semente será plantada e disseminada dentro e fora do território”.
Educação quilombola
A educação na escola Estadual Quilombola Tereza Conceição Arruda inclui matérias que valorizam a cultura local, como práticas em cultura e artesanato quilombola, teologia social, ciências e saberes quilombolas, técnicas agrícolas, entre outros. O estudante do 1º ano do ensino médio, Adenilson Victor, diz que ama aprender esses saberes que resgatam a cultura de seus ancestrais.
Ele se vestiu com as roupas típicas do siriri para participar da apresentação de dança e se emocionou ao falar sobre a importância da comunidade quilombola e da dança para sua identidade. “O siriri traz a nossa ancestralidade, a cultura dos povos escravizados que um dia estiveram aqui. Ele resgata a nossa raça, que nunca pode morrer. Também ficamos muito felizes de levar essa tradição para esse projeto que está começando hoje aqui na escola”.
A juíza, Leda Lima, uma das gestoras regionais do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem, ressaltou a dimensão prática do projeto. “Parte desse trabalho é explicar como as crianças e adolescentes podem ingressar no mercado de trabalho de forma correta, sem exploração. Parabéns a vocês, à Amatra e, principalmente, à nossa presidente por escolher uma escola tão viva, tão alegre e merecedora desse projeto”.
TJC
Criado pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), o projeto Trabalho, Justiça e Cidadania (TJC) já percorreu diversas escolas públicas de Mato Grosso. A proposta é transformar professores e alunos em multiplicadores de direitos e deveres, promovendo o conhecimento sobre a estrutura e o funcionamento do Poder Judiciário e dos órgãos essenciais à Justiça.
Ao longo do segundo semestre, serão realizadas palestras sobre temas como trabalho infantil, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei da Aprendizagem, Trabalho Seguro, entre outros.
A abertura do evento contou ainda com a presença do presidente da Amatra 23, juiz Ulisses Taveira, e do procurador José Antônio Borges, responsável por conduzir a palestra de abertura do evento.
(Sinara Alvares)