Relatos sobre capacitismo, violência e os desafios enfrentados por pessoas com deficiência e outros grupos marginalizados encerraram a 3ª edição da Semana da Acessibilidade e Inclusão da Justiça do Trabalho em Mato Grosso. O evento, realizado de 24 a 28 de novembro, reuniu servidores, magistrados e convidados que compartilharam trajetórias pessoais e profissionais de defesa de direitos.
A Semana de Acessibilidade é uma iniciativa do Subcomitê de Acessibilidade, Inclusão e Atenção à Pessoa Idosa do TRT/MT e tem como objetivo de sensibilizar sobre direitos e necessidades das pessoas com deficiência, além de combater o capacitismo, a discriminação e o preconceito.
O juiz Márcio da Cruz, primeiro magistrado cego da Justiça do Trabalho, abriu a programação do último dia com uma palestra sobre a evolução dos direitos das pessoas com deficiência ao longo dos séculos. Ele destacou que as transformações mais significativas ocorreram apenas nas últimas décadas e, ainda assim, são insuficientes para eliminar todas as barreiras existentes.
O magistrado comparou a falta de acessibilidade arquitetônica a um ato explícito de exclusão: “Uma escada que impede a entrada de uma pessoa cadeirante funciona, na prática, como uma placa proibitiva”, analisou. “Mudanças, ainda que pequenas, são fundamentais para desconstruir a mentalidade capacitista, que naturaliza a exclusão e ainda culpabiliza o indivíduo pela própria condição.”
Roda de conversa
A superintendente da Secretaria Estadual de Trabalho e Assistência Social, Taís de Paula, compartilhou sua jornada como mulher preta e pessoa com deficiência em razão das sequelas da poliomielite na infância. A doença compromete os movimentos das pernas e levou ao desenvolvimento da síndrome pós-pólio. “Até 2016, eu ainda caminhava, mesmo com dificuldades. A síndrome levou à fraqueza muscular e hoje sou cadeirante”, relatou.
Segundo ela, o apoio da família foi crucial para que ela se tornasse uma voz ativa em defesa da acessibilidade. “Enfrento a discriminação desde muito cedo, mas nunca permiti que minha condição definisse quem eu sou. Hoje, uso minha trajetória para apoiar e motivar outras pessoas”, afirmou.
A programação contou ainda com a participação da servidora do TST e diretora executiva da Articulação Nacional de Trabalhadoras(es) Trans do Sistema de Justiça, Luna Leite, que apresentou uma análise histórica e jurídica sobre a violência estrutural contra pessoas trans no Brasil.
Ela ressaltou o protagonismo de travestis negras no movimento LGBTQIA+ e o surgimento de instituições que impulsionaram avanços importantes na defesa desses direitos. Luna destacou a importância da ampliação das políticas de cotas e do direito ao uso de banheiros de acordo com a identidade de gênero. “Não queremos segregação. Queremos segurança, dignidade e condições iguais”, enfatizou.
A programação foi concluída com um debate mediado pelo desembargador Aguimar Peixoto, que assumirá a Presidência do TRT mato-grossense em 2026. O magistrado também falou sobre o etarismo e chamou a atenção para a discriminação contra pessoa com mais de 60 anos. O evento contou ainda com a participação da coordenadora do Subcomitê de Inclusão, Acessibilidade e Atenção à Pessoa Idosa, juíza Márcia Martins, e da coordenadora do Subcomitê de Equidade, Raça, Gênero, Diversidade e Inclusão, juíza Analuíza Policarpo.
(Fabyola Coutinho)