Advogado Previdenciário

Cultura e ancestralidade marcam encerramento do programa TJC na comunidade de Mata Cavalo

“Eu sou quilombola, quilombola eu sou… e nunca nego e sempre carrego o jeito que eu sou”. A música embalou o grupo de siriri Ipê do Cerrado no encerramento da edição 2025 do Programa Trabalho Justiça e Cidadania (TJC), nessa terça-feira (14).  A iniciativa desenvolvida pela Associação dos Magistrados Trabalhistas (Amatra23) em parceria com a Justiça do Trabalho mato-grossense, foi realizada na Escola Estadual Quilombola Tereza Conceição de Arruda, comunidade rural de Mata Cavalo, no município de Nossa Senhora do Livramento.

A ação transformou a escola em um palco de apresentações culturais elaboradas pelos alunos. Poesias, teatro, músicas e cartazes sobre o trabalho análogo à escravidão, preconceito, direitos das crianças e adolescentes e trabalho infantil, temas que fazem parte do cotidiano dos moradores da região remanescente do quilombo homônimo à comunidade.

A presidente do Tribunal, desembargadora Adenir Carruesco, expressou sua emoção ao participar do evento. “Saio daqui com o coração fortalecido e com ainda mais vontade de fazer a diferença na vida de outras pessoas. Senti uma conexão forte com a ancestralidade e tudo que essa comunidade representa, como a resistência, a briga por inclusão e visibilidade”.

Para a magistrada, a escola captou o espírito do Programa TJC e desenvolveu um trabalho surpreendente. “É difícil traduzir em palavras essa experiência. Nós trouxemos noções de trabalho, justiça e cidadania e eles ampliaram esse aprendizado e nos mostraram uma sabedoria impressionante”, elogiou a desembargadora.

Cultura e ancestralidade marcam encerramento do programa TJC na comunidade de Mata Cavalo 1Com cerca de 300 alunos, a Escola Estadual Quilombola Tereza Conceição Arruda atende famílias que lutam contra o racismo, enquanto buscam regularização fundiária e preservação de suas tradições. Segundo a coordenadora Júnia Trevisan, a educação escolar quilombola tem como objetivo integrar, seja na identidade, na cultura, seja na pertença. “Educamos para a vida, com foco principal na formação humana como um todo. Isso acaba por se tornar um incentivo diário para nós educadores”, afirmou.

O ensino inclui matérias que valorizam a cultura local, como práticas em cultura e artesanato quilombola, teologia social, ciências e saberes quilombolas e técnicas agrícolas.

Lições

Uma das apresentações que mais chamou a atenção foi o teatro encenado pelos alunos sobre trabalho infantil. A aluna Eshilley Veloso, 13 anos, que participou da encenação, disse que a peça fala de uma realidade comum na escola. “Isso ocorre com frequência para muitos de nós”, destacou. A estudante ressaltou ainda o orgulho da própria história. “Minha vó Tereza Conceição Arruda dá nome à escola. Quero seguir seu exemplo e continuar sua luta”, revela.

Adenilson Victor, do 1º ano Ensino Médio, também falou de sua alegria em fazer parte da comunidade quilombola. “Vivo aqui desde os dois anos de idade. Sofremos com o racismo, mas isso só aumenta minha perseverança”, pontuou. Para ele, o projeto TJC trouxe informações que vão ajudá-lo nesse percurso. “Aprendi coisas que vou levar para a vida toda”.

Cultura e ancestralidade marcam encerramento do programa TJC na comunidade de Mata Cavalo 3Aprendizado Mútuo

Para a coordenadora Elizabeth Miguel, o TJC foi uma troca valiosa entre os educadores e os representantes da Justiça do Trabalho. “Foi uma experiência riquíssima para nós desde o primeiro momento. Aprendemos muito sobre direitos trabalhistas e da criança, temas que, muitas vezes, nem os adultos dominam”.

Ela também destacou a representatividade da desembargadora Adenir Carruesco.  “Nos sentimentos felizes em participar desse programa e ver uma mulher negra à frente da instituição de justiça é muito inspirador. Isso mostra para nossos alunos que é possível chegar aonde se sonha”.

Trabalho, Justiça e Cidadania

Criado pela Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho (Anamatra) e executado nos estados pelas Amatras, o Programa TJC percorre escolas com o propósito de disseminar valores de cidadania, justiça e direitos fundamentais. A iniciativa passa por etapas que incluem palestras, atividades pedagógicas e, por fim, a culminância, momento em que os estudantes apresentam os conhecimentos adquiridos.

Cultura e ancestralidade marcam encerramento do programa TJC na comunidade de Mata Cavalo 5Em Mato Grosso, esta foi a primeira vez que o programa alcançou uma escola da zona rural, o que ampliou o alcance e a diversidade das ações, avaliou a juíza Karina Rigato, uma das coordenadoras do TJC. “Essa experiência mostrou a importância da diversidade, equidade racial e da necessidade de dar voz a segmentos sociais que não tem visibilidade”, ressaltou.

Desde que teve início na Escola Tereza Conceição Arruda, em julho deste ano, o programa promoveu uma série de palestras sobre temas como trabalho infantil, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei da Aprendizagem, Trabalho Seguro, entre outros.

A culminância desta edição do programa contou também com a participação da diretora da Escola Judicial do TRT/MT,  desembargadora Eleonora Lacerda; da juíza Priscila Lopes, também integrante do TJC; do presidente da Amatra 23, juiz Ulisses Taveira, e a procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT/MT), Thaylise Zaffani.

Veja aqui o álbum de fotos

 

(Fabyola Coutinho)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

FONTE: TRT23-MT

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