Alunos de escola quilombola conhecem instalações e funcionamento do TRT/MT

Para Maria Aline Souza de Jesus e outros 24 alunos da Escola Estadual Quilombola Tereza Conceição de Arruda a aula dessa segunda-feira (6) foi bem diferente. Os estudantes conheceram a sede da Justiça do Trabalho em Mato Grosso e aprenderam um pouco sobre o funcionamento da instituição. “Acho que é importante aprender mais sobre nossos direitos. Isso irá me ajudar futuramente, quando eu for trabalhar”, destacou a aluna do 1º ano do Ensino Médio.

O grupo de estudantes  representou a escola que  participa pela primeira vez do Projeto Trabalho, Justiça e Cidadania (TJC), desenvolvido pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT/MT) em parceria com a Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Amatra/MT). Nesta edição, o TJC contempla estudantes do Quilombo Mata Cavalo, em Santo Antônio do Leverger.

O Projeto TJC normalmente é trabalhado em escolas públicas do perímetro urbano. A inovação no local do projeto foi sugerida pela presidente do TRT, desembargadora Adenir Carruesco. A magistrada também está à frente do Projeto Justiça Ativa pela Equidade Racial, implantado no ano passado, durante seu primeiro ano de gestão. 

A presidente recepcionou os alunos usando uma saia confeccionada com capulana, usado para vestimentas em países como Moçambique. “Esse tecido foi um presente que ganhei de uma magistrada de uma corte superior africana. É uma forma de destacar a importância desse encontro para mim e para todos vocês”, disse.

A desembargadora contou um pouco sobre sua trajetória como magistrada e mulher negra. “Muitos me perguntam como consegui chegar até a Presidência do Tribunal. Eu digo que foi muita sorte, mas sorte de estar preparada com conhecimento, coragem e determinação para agarrar a oportunidade quando ela apareceu”, ressaltou. “Eu nunca me conformei com o lugar que eu estava e minha forma de protestar era estudar para mudar minha realidade e é isso que eu desejo a vocês”.

Para a professora Elizabeth Miguel, uma das coordenadoras pedagógicas da escola, que acompanhou o grupo de alunos na visita, a participação no projeto veio em ótima hora. “Trabalho e moro em Mata Cavalo e precisamos muito de informações, pois muitas pessoas da comunidade desconhecem os direitos trabalhistas. Temem ficar com o ‘nome sujo’ se reivindicá-los”.

A docente acredita também que a iniciativa pode ajudar na redução da evasão escolar. “Temos vários alunos que abandonam a escola pelas atividades do garimpo.  São jovens que querem ter seu dinheiro e preferem viver uma ilusão, ignorando os riscos de uma atividade tão cheia de perigos.”

Já a professora Sônia Monteiro agradeceu a participação no projeto TJC e espera que mudanças na percepção das pessoas. “Não somos como qualquer outra escola da cidade. Temos uma realidade excludente e nossos alunos vivem o racismo e o preconceito cotidianamente. E mesmo que nas normas digam que somos iguais, na realidade, não somos. Precisamos de investimentos na parte estrutural e, principalmente, social, para uma visão mais humana sobre as nossas necessidades.” 

O grupo conheceu a Biblioteca do TRT, o auditório da Escola Judicial, o Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) e o Memorial com informações e itens históricos da instituição.

A visita contou com a participação do presidente da Amatra/MT, juiz Ulisses Taveira; da juíza Auxiliar da Presidência, Leda Lima; além da presença dos professores Alex Fabiano Correa, Ana Maria de Arruda, Fátima de Oliveira e Silva e Mari Gonçalina.

Trabalho, Justiça e Cidadania

O TJC é um projeto idealizado pela Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho (Anamatra) e replicado em cada estado pela respectiva Amatra. Em Mato Grosso, a ação ocorre em parceria com o TRT/MT.

O projeto promove uma troca de conhecimento e experiências e é desenvolvido  em três etapas. A fase inicial é para escolha da escola a ser atendida e quais as necessidades da comunidade. A segunda etapa é composta por encontros presenciais com professores, coordenadores e diretores.  A terceira etapa é a da replicação, em que professores e pais transmitem o conteúdo para os alunos, por meio de atividades diversas, como concurso de redação, teatro, curtas-metragens, exposições em sala de aula, entre outras. 

(Fabyola Coutinho)